Gajo estranho
De resto, é precisamente por causa de Frank Black e companhia que escrevo.
Três bandas marcaram o meu crescimento: Smiths, Clash e Pixies.
Os primeiros por grande influência dos meus irmãos mais velhos, com eles descobri a escrita de Morrissey e um certo universo que havia de influenciar a minha maneira de olhar o mundo no início da adolescência. Quer dizer, pelos meus 11 ou 12 anos.
Ao chegar ao secundário, enquanto os meus colegas iam ouvir Pump It Up nos intervalos eu ficava à conversa com o meu professor de português, um tipo novo e desfasado daquela realidade, que me pôs em contacto com The Clash e a música punk. O menino certinho que eu era gostava mesmo da contra-cultura, da resistência, do estar do outro lado, nem que fosse através de uns discos de vinil em segunda mão. Pelo caminho muito Sex Pistols, Joan Jett, Dead Kennedys e afins, tudo memórias de uma revolução alternativa, mas que, na maior parte dos casos já tinha tido o seu epílogo.
Foi pela mão do meu professor que também me chegou Surferosa, o primeiro disco de estúdio dos Pixies, de audição constante numas férias de Natal, há uns bom dezassete anos. A partir daí foi uma procura constante, na altura sem as possibilidades que a internet nos dá hoje. Discos, gravações piratas, artigos de jornal, tudo o que me conduzisse ao mundo freak de um tipo que escrevia canções em frente ao espelho, escolhendo palavras ao acaso.
Quando comecei a fazer rádio, o meu primeiro programa de autor começou com Where is my mind:
Ooooooh - stop
With your feet in the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse
But there's nothing in it
And you'll ask yourself
Where is my mind
Way out in the water
See it swimmin'
I was swimmin' in the Carribean
Animals were hiding behind the rocks
Except the little fish
But they told me, he swears
Tryin' to talk to me to me to me
Where is my mind
Way out in the water
See it swimmin' ?
With your feet in the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse
If there's nothing in it
And you'll ask yourself
Where is my mind
Ooooh
With your feet in the air and your head on the ground
Ooooh
Try this trick and spin it, yeah
Ooooh
Ooooh
"Hey"
hey
been trying to meet you
hey
must be a devil between us
or whores in my head
whores at my door
whores in my bed
but hey
where
have you
been if you go i will surely die
we're chained
uh said the man to the lady
uh said the lady to the man she adored
and the whores like a choir
go uh all night
and mary ain't you tired of this
uh
is
the
sound
that the mother makes when the baby breaks
we're chained
Ao ver o concerto acústico, dado num festival de música folk, em Newport, no ano passado, voltei a pensar na razão porque gosto de Pixies. Joey Santiago está careca, David Lovering também perdeu a cabeleira loira, Kim Deal aguentou-se bem nos últimos vinte anos, mas nunca foi propriamente bonita, e Charles Thompson (verdadeiro nome de Black Francis, Frank Black) está gordo como um texugo. São totalmente anti-estrelas, completamente opostos à cultura dos cantores-pop-top-model. Acho que é por isso que continuo a gostar deles. Ou então é só porque sou um gajo estranho. Ou talvez as duas coisas estejam completamente ligadas e nunca sejam causa nem efeito.
Gigantic, gigantic, gigantic
A big big love
Gigantic, gigantic, gigantic
A big big love
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