domingo, 26 de novembro de 2006

Cesariny

A notícia acertou no estômago à hora de almoço. Era esperada, mas mesmo assim vamo-nos enganando para não acreditar no inevitável. Mário Cesariny morreu esta madrugada, ficam os seus quadros, os seus poemas, a saudade.
Fica o arrepio por ter posto no papel os sentimentos que eu não sei escrever.


Poema

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando —
a delimitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

(Pena Capital - Mário Cesariny)